quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desenvolvimento Moral - Piaget



Realismo moral - Heteronomia

Há apenas o respeito à autoridade. Não há consciência, nem reflexão, apenas obediência.
O certo é o cumprimento da regra e qualquer interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Um homem pobre que roubou um remédio da farmácia para salvar a vida de sua esposa está tão errado quanto um outro que assassinou a esposa, seguindo o raciocínio heteronômico.

A responsabilidade pelos actos é avaliada de acordo com as consequências objectivas das acções e não pelas intenções. O indivíduo obedece às normas por medo da punição. Na ausência da autoridade ocorre a desordem, a indisciplina.


Relativismo moral - Autonomia

Legitimação das regras. Aqui o indivíduo adquire a consciência moral, possui princípios éticos e morais. Na moralidade autónoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significação. Possui princípios éticos e morais. Na ausência da autoridade continua o mesmo. É responsável, auto-disciplinado e justo. A responsabilidade pelos actos é proporcional à intenção e não apenas pelas conseqüências do acto.

O respeito a regras é gerado por meio de acordos mútuos. É a última fase do desenvolvimento da moral.

Desenvolvimento Moral - Kohlberg

A Metodologia utilizada -  conjunto de histórias morais em que as pessoas teriam de opinar sobre o assunto. Conforme as respostas, seria possível avaliar os seus comportamentos morais.

Metodologia:
  • Dilema moral
     
  • Julgamento
     
  • Justificação

Nível Pré-convencional - (crianças do 1º ciclo, aproximadamente até 9 anos, adolescentes e grande número de delinquentes)

Estádio 1 - Moralidade Heterónoma

• Pressupõe uma moral heterónoma, isto é uma educação que visa à obediência a uma entidade de respeito vinda do exterior e para o castigo.

• Existe uma deferência egocêntrica, a criança pensa apenas nela própria.

• A acção é avaliada pelas consequências, castigo ou recompensa, da autoridade exterior, isto faz com que a criança não aja por ela mesma.

Estádio 2 - Individualismo, propósito e troca instrumental

• Caracterizado pelo individualismo, apropria-se de tudo ao seu dispor.

• Orientação egoísta, em que a criança não é capaz de um raciocínio moralmente correcto, apenas para aquele que a beneficia.

Em suma: criança manipuladora e egocêntrica, as suas acções tendem a reflectir consequências positivas (a recompensa).



Nível Convencional - (da adolescência para adiante, a maior parte das pessoas fica por aqui)

Estádio 3 - Expectativas interpessoais mutúas, relacionamento e conformidade interpessoal

• Orientação do bom rapaz, linda menina – aquilo que o meio social e familiar compreende como parâmetros correctos.

Conformidade aos estereótipos sociais – orientação para agradar o outro.


Estádio 4 - Sistema e consciência social, manutenção da lei e da ordem

• Orientação para a manutenção da ordem social e da autoridade.

Respeito pelas expectativas sociais depositadas no indivíduo – do contexto onde está inserido, princípios de honra relacionados com populações pequenas.

Suma: valores baseados nos bons e maus papeis e na manutenção da ordem convencional.


Nível Pós-convencional 

Estádio 5  - Contrato social ou direitos individuais democraticamente aceites

Orientação contratual e legalista, isto é, baseado nos contratos legais , nos direitos básicos e nos valores morais mesmo que exista conflito entre as regras do grupo.

• Diferencia para com o bem-estar dos outros e pelo cumprimento dos contratos – consideração do ponto de vista legal e do ponto de vista dos outros e procura reconhecer o conflito entre eles, de forma a fazer escolhas que tragam o maior bem para o maior número.

Estádio 6 - Princípios éticos Universais
Orientação pelos princípios éticos universais – relação dos princípios éticos com a noção de justiça, dignidade humana, direitos humanos e igualdade de direitos. Aqui os princípios de justiça não são apenas produtos da sociedade para resolver eficazmente os conflitos, mas sobretudo o reflexo de uma ordem natural que reside tanto na natureza humana como na ordem cósmica. São princípios éticos e universais no sentido de que são um produto de desenvolvimento da natureza humana, estando assim presentes em todas as sociedades e culturas.

Suma: o self apresenta-se em conformidade com princípios, padrões e deveres associados a valores éticos e universais.

A teoria de Kolhberg é um dos exemplos mais significativos de uma teoria moral centrada na defesa dos princípios éticos e preocupada com o desenvolvimento do raciocínio moral.


Então, eis que surge a QUESTÃO .. .... . .  . . . . . . . . .
Em que nível é que nos encontrámos?

Aguardo resposta .... ehehehe



Para aprofundarem um pouco mais, sugiro o seguinte link: 

sábado, 2 de julho de 2011

CICLO DA VIDA (reflexão entre morte e vida...)

O fim da vida: morte e luto


 

A morte é considerada a finalização de um ciclo, o fim de tudo. Mas a discussão sobre o que ela é e como ela acontece ainda é considerado um assunto delicado, e muitas vezes até evitado pela maioria das pessoas. O facto de sabermos que ninguém escapará da morte, é o que a torna um assunto tão fascinante e ao mesmo tempo angustiante, pois ela não pode ser evitada. A ciência busca há séculos maneiras de retardá-la e até mesmo suplantá-la, através de medicamentos e pesquisas, obtendo êxito em algumas áreas. O facto é que a vida e a morte são assuntos complexos e que sugerem discussões polémicas e acaloradas.



Mas afinal, o que é a morte?
Procurando o significado da palavra morte, encontramos no dicionário de Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1986) a seguinte explicação: “acto de morrer, o fim da vida genital, animal, fim. Grande dor, pesar profundo”.
Pensando na morte como algo mais profundo, Chevalier et al (2002), designa-a como o fim absoluto de qualquer coisa. Enquanto símbolo, a morte é considerada o aspecto perecível e destrutivo da existência, indicando aquilo que desaparece na evolução das coisas. No entanto, ela é ao mesmo tempo revelação e introdução, pois todas iniciações atravessam uma fase de morte, antes de aceder a uma vida nova. Portanto, a morte tem um valor psicológico que liberta das forças negativas e regressivas, tornando possível à ascensão do espírito. Ela é considerada filha da noite e irmã do sono, tendo o poder de regenerar, ela é, enfim a condição para o progresso e para a vida.


A morte então está relacionada a tudo aquilo que nos cerca, fazendo-nos pensar que não somos eternos, que não somos donos de nossa própria vida, tendo que obedecer ao ciclo natural da vida, ou seja, tudo que é vivo um dia morrerá. A morte também nos remete à doença e ao sofrimento, isto é, pensar na morte muitas vezes está associado ao facto de que essa será sofrida, dolorosa, e muitas vezes em decorrência de uma doença grave. A morte também sinaliza o fim de uma etapa, para o início de outra, como o fim da infância e o início da adolescência, por exemplo.
Ao pensar na morte como perda, é importante realçar que a morte do outro se configura como a vivência da morte em vida. É a possibilidade de experimentar a morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte de nós morresse, uma parte ligada ao outro pelos vínculos. Portanto, a perda pela morte é a ruptura irreversível de um vínculo, sobretudo quando ela é real, concreta.

Os sentimentos mobilizados pela perda como morte são possíveis por causa do processo de luto e da sua elaboração. Freud, em “Luto e Melancolia” (1917), define o luto como uma reacção à perda de um ente querido, à perda de alguma abstracção que ocupou o lugar desse ente, desânimo profundo, falta de interesse pelo mundo externo e perda da capacidade de adoptar um novo objecto de amor. Ou seja, o objecto amado não existe mais, o que exige que a libido seja desviada para outro objecto, o que causa grande desagrado. Quando finalmente o trabalho do luto termina, o ego está novamente livre e desinibido.


A morte mesmo sendo comum a todo ser humano, causa muito medo, por ser a única coisa realmente desconhecida e da qual nunca poderemos escapar.
Pode também representar o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do desconhecido, do julgamento por seus actos em vida, do que ocorrerá com os seus familiares e por fim o medo do fracasso na realização de seus objectivos, como se a sua “missão” não pudesse ser terminada.
Diante do que foi exposto relativamente à morte pode-se dizer que este é um tema que mobiliza muitas questões, por estar ligado à representação da aniquilação, da doença e da separação daqueles que amamos, por conta disso, podemos dizer que este se torna então um factor extremamente stressante, e como tal, pode estar vinculado ao aparecimento de doenças e por isso merece atenção.
 

O envelhecimento: mudança de estatuto

O relacionamento do idoso com o mundo caracteriza-se pelas dificuldades adaptativas, tanto emocionais como fisiológicas; a sua performance ocupacional e social, o pragmatismo, a dificuldade para aceitação da novidade, as alterações na escala de valores e a disposição geral para o relacionamento objectual. No relacionamento com a sua história o idoso pode atribuir novos significados a factos antigos e os tons mais maduros da sua afectividade passam a colorir a existência com novos matizes; alegres ou tristes, culposas ou meritosas, frustrantes ou gratificantes, satisfatórias ou sofríveis... Por tudo isso, a dinâmica psíquica do idoso é exuberante, rica e complicada.
 
Freud afirmava, com notável sabedoria, que os determinantes patogénicos envolvidos nos transtornos mentais poderiam ser divididos em duas partes:
Aqueles que a pessoa traz consigo para a vida;
Aqueles que a vida lhe traz.
 
Na velhice isso fica mais evidente ainda, de um lado os factores que o indivíduo traz consigo na sua constituição e, do outro, os factores trazidos até ele pelo seu destino. O equilíbrio psíquico do idoso depende, basicamente, da sua capacidade de adaptação à sua existência presente e passada e das condições da realidade que o cercam.
 
 

 
Disposições Pessoais
 
As Disposições Pessoais são os elementos referidos por Freud ao referir-se àquilo que o indivíduo traz para a vida, ou seja, a sua constituição. Ajuriaguerra, ao afirmar que "envelhece-se como se viveu", certamente estava pensando nos traços pessoais da nossa constituição que acabam por ficar mais marcantes com o envelhecimento. A casuística da prática clínica tem mostrado, embora nunca de maneira absoluta, que os indivíduos portadores de dificuldades adaptativas em idade anterior envelhecem com maiores dificuldades.
Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com alguma dificuldade ou sofrimento na idade adulta ou jovem, quando a própria fisiologia era mais favorável e as condições de vida mais satisfatórias e atraentes, no envelhecimento, então, quando as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade geral de vida, a adaptação será muito mais problemática. Portanto, está correcto dizer que quanto melhor tenha sido a adaptação da pessoa à vida em idades anteriores, melhor será sua adaptação no envelhecimento.
 
Por outro lado, alguns autores observaram uma significativa melhora em poucos casos de neuroses com o envelhecimento, facto também observável na prática psiquiátrica. Isso mostra-nos, de facto, não haver uma desestruturação psíquica no envelhecimento mas sim, uma alteração estrutural na dinâmica psíquica, novos arranjos psicodinâmicos e nova arquitectura afectiva distinta da anterior.
 
Nestes casos, um ambiente pleno de carinho e atenção em torno do idoso, juntamente com uma serenidade afectiva própria da fase que este atravessa favoreceriam o acomodamento emocional com o envelhecimento. Esta "serenidade afectiva", necessária à acalmia de algumas neuroses no envelhecimento, seria uma circunstância emocional mais tranquila, possivelmente ausente em épocas anteriores e, cuja falta, poderia contribuir para a manutenção de um antigo quadro neurótico. Tais alterações estruturais benéficas são mais observáveis em alguns casos de transtornos obsessivos, histéricos e receosos, porém, não devem ser entendidos como via de regra.
 
Mais comum na velhice, entretanto, é o agravamento e não a melhoria das alterações psíquicas anteriormente constatadas. No caso das neuroses do idoso, assim como nas demais idades, o transtorno decorre do grande esforço interno em conseguir uma satisfação existencial e uma adaptação à realidade.  
 
Assim sendo, mesmo diante de circunstâncias existenciais favoráveis para alguns idosos, tal satisfação adaptativa não seria conseguida devido à certa fragilidade emocional própria de seus traços afectivos. Nestes casos não é, absolutamente, a vida ou as circunstâncias ambientais correlacionadas à senilidade quem estaria proporcionando condições necessárias para a eclosão da sintomatologia neurótica mas sim, as condições de personalidade prévia do paciente. Outros idosos, possuidores de melhores condições de adaptação (personalidade), não manifestariam transtornos emocionais diante de iguais condições de vida.
 
É por causa disso que se envelhece como se viveu.
 
O envelhecimento: mudanças físicas e cognitivas
Abordando o desenvolvimento intelectual do indivíduo que se efectua ao longo da vida, Perry (1970) apresenta um modelo de nove estádios, existindo entre cada um destes nove estádios, fases de transição.

  Este modelo refere uma evolução de formas concretas para formas abstractas de pensamento, de uma forma simplista e unidimensional para perspectivas multidimensionais e complexas de conhecimento, de uma forma de instância externa de autoridade (existindo um dualismo entre a autoridade que tudo sabe e o indivíduo que pouco ou nada sabe) para uma maior autonomia e comprometimento com os valores pessoais na relação com o conhecimento. Grow (1991) e Kaswrom (1992) mostram nas suas investigações que os adultos, em situação de aprendizagem, apresentam diversos níveis ao nível da auto direcção: desde adultos que vivem numa dependência quase total da autoridade  externa (professor, instituição educativa), a adultos que são altamente auto dirigidos nas suas aprendizagens e na relação com a autoridade.

Nesta linha de abordagem do desenvolvimento cognitivo na vida adulta, King e Kitchener (1994) falam da evolução ao nível do raciocínio reflexivo, que segundo as autoras, é caracterizada por sete estádios de desenvolvimento. Os primeiros três estádios correspondem a uma fase pré-reflexiva, onde o indivíduo assume existir a 'resposta correcta' para todos os problemas. Os dois estádios seguintes são considerados quase reflexivos:  no quarto estádio o conhecimento já é entendido como incerto, não existindo contudo uma discriminação da qualidade das diferentes opiniões individuais; no quinto estádio o conhecimento é considerado como subjectivo, existindo a consciência da existência de diferentes perspectivas. Segundo as autoras, apenas os últimos dois estádios são reconhecidos como pensamento reflexivo. Nestes últimos estádios, o indivíduo vê o conhecimento não como algo adquirido e imutável, mas como algo que deve ser activamente construído pelo sujeito, numa relação muito estreita com o contexto em que esse mesmo conhecimento é gerado. No sexto estádio o indivíduo considera que as crenças podem ser justificadas através da análise da evidência dos diferentes pontos de vista, ou dos diferentes contextos. No sétimo estádio o indivíduo reconhece que as ideias e pressupostos devem ser confrontados com a realidade, podendo esse processo de inquérito ser falível. O conhecimento resulta, assim, do processo de exame racional, podendo ser sempre alvo do escrutínio e criticismo por parte de outras pessoas.

 
 

Início da vida adulta: papéis e questões

  
O desenvolvimento das crianças e adolescentes instituiu-se ao longo do século XX como uma das áreas fortes da Psicologia. Porém, os restantes períodos de vida foram ignorados até aos anos 70. Os trabalhos de Perry abriram linhas produtivas do desenvolvimento cognitivo adulto – o julgamento reflexivo de King e Kitchener, orientado para a cognição epistémica. Ao longo dos anos 90, outras linhas desenvolvimentais se foram afirmando, incluindo aspectos polémicos da investigação, como por exemplo questões de género, como acontece com a reflexão epistemológica de Baxter Magolda. Fora desta tradição desenvolvimental de raiz piagetiana, surgem as teorias contextuais desenvolvimentais. Em Portugal assiste-se a um interesse cada vez maior pela vida adulta, por exemplo com a criação de novos ciclos de estudos. Entretanto, o que aconteceu no campo da investigação? Procurando contribuir para a divulgação da investigação neste domínio, o presente simpósio organiza-se em torno de diferentes tópicos e períodos de vida.